Uma breve percepção sobre trabalhos artísticos à venda no Facebook
As concepções estéticas aplicadas usualmente a redes sociais propõem que seus usuários interajam, através do compartilhamento e interferências simultâneas no conteúdo postado por cada um. O exercício prático das ferramentas interativas e a familiaridade construída enfim possibilitam um usuário ativo, que vê, entende, aplica e potencializa as probabilidades que lhe aparecem de acordo com a finalidade que pretende alcançar.
Para tanto, algumas ferramentas interativas (botões, por exemplo) surgem para apontar os atalhos:
• “curtir” – o usuário afirma a sua posição em relação ao que foi postado por outro;
• “marcar fotos” – maneira direta de forçar a atenção de outros usuários à determinada imagem/mensagem.
Na rede social Facebook, o usuário/autor detém, à primeira vista, o poder de gerenciar o conteúdo imagético que é postado no ecrã, ou seja, na sua página pessoal. Por um lado, seleciona fragmentos virtuais obtidos através da digitalização de obras artísticas produzidas em outros suportes físicos, como tela de tecido, papel e parede. Nota-se que ao escolher esses pedaços de suas obras, o usuário/autor se dispõe de um ponto de vista, consciente ou não, acerca de seu trabalho. No caso, ele pretende vender suas pinturas, portanto, opta por evidenciar elementos que entende serem atraentes. Para isso, utiliza-se principalmente de repetição de imagens semelhantes com coloridos contrastes. Entretanto, a programação/construção em números e códigos dessa interface virtual condiciona a escolha do autor a formatos e disposições preestabelecidas de suas imagens; dessa forma, aqueles fragmentos escolhidos de uma imagem aparentemente relativa à real, àquela primeira, são novamente reduzidos a outros, em detrimento da opinião do autor. Restam duas opções então: retirar a imagem ou mantê-la, gostando ou não do formato e aparência disponíveis.
O alinhamento simétrico dos retângulos que abrigam essas imagens, notados os espaços entre si como forma de “respiro” de leitura visual, somado às similaridades estéticas entre elas, nos apresenta uma identidade visual coesa referente a esse grupo específico, potencializando as qualidades de
cada uma dessas imagens. A extensa camada branca que serve como plano de fundo a esse conjunto contrasta e o destaca ainda mais. A temática dessa página então emerge principalmente por contrastes, organização e repetições de elementos visuais que mantêm o olhar do leitor/utilizador centralizado em si.
O leitor/utilizador pode optar por uma dessas imagens do retângulo de forma a ampliá-la, com a intenção de vislumbrar sua totalidade. Jean-Louis Weissberg nos alerta que essa imagem é fundamentalmente incompleta, suscetível a alterações contínuas aplicadas pelo usuário sempre que lhe for conveniente, como num estado de latência, prestes a configurar-se em outra forma diferente novamente.
Esse mecanismo permite que ele a observe mais de perto, e aparentemente em sua totalidade – porém, é necessário fazer nesse caso a ressalva de que a imagem que a ele é permitida é apenas um ícone de uma obra externa ao mundo digital, concretizada em outros tipos de materiais, e que é o objeto real que se pretende vender.
Ao lado direito desse bloco, outros blocos de imagens, cujos temas correlacionam-se à temática principal da página, colaboram na construção de seu conteúdo. Fotos nos mostram pessoas durante ação de graffiti e planos gerais e médios que contextualizam o pretexto da página. Da mesma forma, o espaço publicitário disponibilizado na página parece relacionar o conteúdo de seus anúncios com o tipo de conteúdo sustentado por seus utilizadores (autor e público alvo).
Palavras e frases legendam os blocos constituídos e agem como liga entre eles. De maneira geral, conseguimos perceber que a página trata-se de uma área expositiva de trabalhos artísticos que estão à venda como seu título sugere: “Trabalhos à venda”. Se há trabalhos novos ou se os produtos artísticos à venda permanecem, somos orientados por outra legenda que nos indica a última atualização da página, no caso, “há +/- 5 meses”. Esses elementos, em conjunto, contextualizam o conteúdo que ao usuário é apresentado e, por isso, contribuem para que ele produza sentido a partir do que vê. Da mesma forma, o autor da página alcança sua identidade, através da confirmação dos diversos elementos expostos que contribuem para delinear sua presença/identidade na rede.
A barra de rolagem disposta à direita da página e as imagens incompletas na extremidade inferior nos indicam que ainda há mais conteúdo logo abaixo: uma série de comentários, cada qual de um usuário da rede, novamente dispostos em bloco. Todos opinam entusiasmadamente de maneira positiva sobre o que veem e criam uma atmosfera de consagração do trabalho exposto. Podemos dizer, a partir disso, sobre a construção de um status artístico, concebido antes de tudo pela alta aceitação do público. Os vários comentários e a surpresa de obras artísticas belas criam motivos para outros comentários e o Facebook se encarrega de acentuar essa tendência: investe numa foto do perfil do usuário/utilizador seguida de um espaço “em branco” com a frase em cinza: “escreva um comentário...”. A escolha de interagir ou não cabe agora apenas ao usuário.
Face às possibilidades apresentadas da rede e, sem ignorar outras tão interativas e múltiplas do próprio sistema operacional instalado no notebook, suporte físico em que todas essas imagens detalhadas emergem, ainda é necessário comentar a coexistência de todas elas, dividindo a atenção do usuário que opta por uma e outra de acordo com as suas necessidades.
Notamos então uma barra superior com “títulos” e ícones de sites disponíveis e já conectados e outra inferior que, além dessas páginas online, mostram ícones de caminhos para sites na internet, ainda não conectados, e pastas e arquivos abertos e atalhos para outros no Desktop do notebook – em modo offline. Cada uma com a predominância de uma cor, respectivamente: azul e preto. Ainda na extremidade inferior da página do Facebook, o usuário pode “bater papo” com outros usuários que ele pode convidar. A quantidade online e disponível é apresentada por um número que segue o ícone de uma silhueta humana.
A circunstância em que o usuário acessa a rede, notadas as outras atividades que desempenha simultaneamente enquanto utiliza o notebook (ou outro dispositivo qualquer), tanto em sua própria estrutura, quanto externamente, em outras atividades não informáticas, contribuirá com o direcionamento de sua atenção e ações, a freqüência de interação, o conteúdo buscado, dentre outras consequências. Temos como resultado um usuário imprevisível, principalmente devido ao ambiente externo e virtual em que se
encontra, com múltiplas possibilidades – neste último caso, mais ou menos tendenciadas por seus programadores e criadores.
Sâmya Lievore Zanotelli